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Eunice Maia, o rosto da “Maria Granel”

17 de Junho, 2024
Eunice Maia Maria Granel

Em 2013, Eunice Maia e o marido sonharam a Maria Granel, um projeto pioneiro em Portugal – a primeira “zero waste store” do país – que é hoje muito mais do que uma loja.

O que a levou a criar o projeto Maria Granel? Como nasceu a ideia?
A ideia surgiu em 2013, é um sonho a dois, meu e do meu marido. Nasceu como uma forma de ambos regressarmos às nossas origens (eu, minhota; ele, açoriano) e trazer para perto de nós, em Lisboa, o campo e a natureza, homenageando as antigas mercearias, resgatando-as do passado e revestindo-as de uma missão comprometida com o futuro. A nossa missão é ajudar as pessoas a terem acesso a uma alimentação sustentável e a adotarem um consumo mais planificado, mais consciente.

É um projeto que nasce para contribuir, à sua pequena escala e localmente, para a mitigação de três dos principais problemas que enfrentamos globalmente:
1. Problema: sistemas alimentares insustentáveis
– caminho de solução: apoiar modos de produção regenerativos e mais sustentáveis, em concreto, a agricultura biológica – a loja é certificada biológica;
2. Problema: desperdício alimentar
– caminho de solução: promover um consumo mais planificado por meio do granel
3. Problema: crise de resíduos
– caminho de solução: incentivar a reutilização de recipientes e recusa de descartáveis. Introduzimos, de forma pioneira, no país o sistema BYOC (“bring your own container” – traga o próprio recipiente) aplicado, por via do “refill on the go” ao retalho alimentar.


Como explicaria o conceito da marca para quem não a conhece?

A Maria Granel é uma mercearia biológica a granel, a primeira “zero waste” store nacional, e abriu as portas em Lisboa, primeiro em Alvalade, em 2015, e depois em Campo de Ourique, em 2018. Falamos, portanto, de uma loja de bairro, de comércio de proximidade. Os produtos estão expostos em dispensadores, de que as pessoas, numa autêntica experiência multissensorial, são convidadas a servir-se, retirando a quantidade exata de que precisam.

Temos mais de 2.000 referências no nosso portefólio, entre alimentos biológicos certificados (especiarias, chás e infusões, frutos oleaginosos, cereais, leguminosas, algas, cogumelos, bolachas, chocolates, gomas, cereais de pequeno-almoço, café em grão,…); acessórios reutilizáveis e duradouros (alternativas aos descartáveis) para todas as áreas da casa e do dia a dia, cosmética, produtos de limpeza, detergentes a granel,…

Além das lojas físicas (retalho alimentar a granel) e junto do consumidor final, temos também uma área B2B, trabalhando neste momento com mais de uma centena de parceiros de revenda em todo o país, que comercializam as sete marcas que representamos em Portugal. Nos últimos dois anos, começámos também a fornecer agências de comunicação (press kits, por exemplo), restaurantes, hotéis e alojamentos turísticos, que demonstram interesse em disponibilizar aos seus clientes soluções e alternativas ecológicas (da cosmética, acessórios de limpeza e cozinha, a alimentos).

No que diz respeito à formação, colaboramos com escolas e com empresas, dinamizamos dezenas de workshops, palestras, masterclasses, “team buldings”. Temos também o nosso próprio espaço para realização de workshops, com uma cozinha equipada na nossa loja de Campo de Ourique.

Por fim, ao nível da comunicação, produzimos conteúdos de literacia ambiental para as nossas redes sociais e para terceiros, temos um podcast, blog, newsletter. E já publicámos dois livros (Desafio Zero e Diz não ao desperdício com o Simão) e um e-book sobre alimentação sustentável.


A par das lojas, a Eunice tem um projeto de sensibilização ambiental junto das crianças e jovens. O que lhes transmite e como é que as novas gerações olham para as questões ambientais?

Desde 2019, trabalhamos sobretudo com comunidades escolares, no nosso Programa (Z)Hero, para diagnosticar, monitorizar e reduzir o seu desperdício. Colaboramos com instituições, num primeiro momento, para dar formação (depois de formada uma equipa multissetorial, composta por alunos, professores, funcionários e técnicos, famílias, direção, parceiros) e conduzir um diagnóstico que identifica a quantidade de resíduos gerados, as suas fontes e aspetos críticos; segue-se, em equipa e tendo em conta todas as partes interessadas, a definição de um plano de ação, com os respetivos objetivos e indicadores de desempenho, e formação alargada; e, depois de um acompanhamento próximo e constante, avaliação final, com novo diagnóstico.

Tivemos o privilégio de acompanhar, durante um ano, a Casa Pia de Lisboa (primeiro, informalmente, o CED Nossa Senhora da Conceição, no Rato; depois, formalmente e através de um protocolo de formação de um ano, o CED Pina Manique) e foi (tem sido!) extraordinário ver a forma como têm mobilizado – uma equipa persistente, criativa e coesa – a comunidade (com dezenas de famílias voluntárias!), e a transformação e as mudanças desencadeadas, da horta à compostagem; do FAB (laboratório de prototipagem, produção de ideias, núcleo de triagem e separação de plásticos; reaproveitamento, reutilização, reciclagem; produção de bioplásticos) à implementação de um sistema de separação de resíduos e à redução do desperdício alimentar, para citar apenas alguns aspetos que são exemplos nacionais e uma referência do que melhor se faz em Portugal nesta área da educação para o “Lixo Zero”.

Um livro: Joana Bértholo, Natureza Urbana.
Uma das obras que lemos no clube de leitura climática “Futuros Possíveis”, organizado pelo Vilarejo e Juca na Maria Granel. Neste conto, que abre com a intrigante pergunta “Como foi que vim aqui parar?” (e cuja resposta só é obtida no final), acompanhamos a narradora (e protagonista) pelo cenário urbano e pelo seu próprio cenário interior, numa ficção climática que desvenda a abundância e a exuberância da vida selvagem nas estruturas citadinas, mostrando que a natureza está/é em em todo o lado.

Um filme: Um documentário, “Live to lead” – Netflix.
Uma série de episódios dedicados a líderes e ativistas inspiradores, comprometidos com o impacto social e ambiental e que mudaram o mundo com o seu exemplo e legado. Liderança, impacto, esperança. Ruth Bader Ginsburg, Nelson Mandela, Greta Thunberg, Gloria Steinem, Jacinda Ardern.

Uma viagem: ao meu paraíso e refúgio-casa – Açores

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